terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Terrorismo: Será só por causa das 70 e tal virgens?


Não é meramente uma adversidade que torna uma pessoa num terrorista. É tentador perspetivar este comportamento como maluco, pois diluiria assim a intencionalidade e não se trataria somente de “pura maldade”. Se também determinássemos as causas destas patologias, podíamos eliminar o perigo, dando-nos maior controlo sobre a situação.
Apesar dos ofensores mais comuns serem descritos pela impulsividade, baixo nível de inteligência, baixo nível de planeamento e autocontrolo, e tendo relacionamentos interpessoais para fim de exploração e consumo frequente de álcool e drogas, os criminosos “políticos” são percecionados como tendo um nível de inteligência médio e sem consumo de substâncias ou perturbações mentais.
Quando confrontados com as consequências dos seus atos, demonstram reserva (ao contrário da ausência de remorsos dos psicopatas), sendo capazes de racionalizar e compartimentalizar as suas actividades violentas, crendo ser ações necessárias para lutar por uma causa maior (Horgan, 2003, citado por Miller, 2006). A personalidade de um indivíduo influencia a direção da escolha de cometer atos prejudiciais, quer por auto-gratificação ou por um propósito mais elevado. Apesar de 40% das caraterísticas de personalidade serem hereditárias, esta também é moldada pelos contextos familiar, social, económico e político em que a pessoa se desenvolve. Quando as caraterísticas se tornam mais que variações menores, percepcionamo-las não só como traços, mas como perturbações da personalidade.
O terrorismo religioso acredita assim que só prestam contas a Deus, podendo matar em Seu nome (June, 1999, citado por Miller, 2006), podendo dividir-se em indivíduos que são os mais ideologicamente motivados, servindo como ponto focal do grupo; os criminosos, que aparecem como indivíduos que procuram uma desculpa para expressar os seus impulsos antissociais através de uma causa nobre e aceitável e ainda os sujeitos com psicopatologia, que são normalmente atraídos pela extremismo que o grupo representa, podendo desempenhar papéis úteis para os objetivos da estrutura (Hacker, 1976, citado por Miller, 2006).


            Ana Lopes

Miller, L. (2006). The terrorist mind: II. Typologies, psychopathologies and practical guidelines for investigation. International Journal of Offender Therapy and Comparative Criminology, 50 (3), 255-268. Doi: 10.1177/0306624X05281406

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