sexta-feira, 29 de março de 2013

[Mudança]: Projecto PROCESSO(s)

Projecto PROCESSO(s) - Ser a Pessoa dos seus Talentos

            Falo-vos do Projecto PROCESSO(s). Nasceu de catarses entre Psicologia e Arte e, sem conceito que lhe fosse foz, propôs-se redesenhar o verbo criar a partir de uma linha temporal contínua, ancorando-se em vários nichos sociais. Surgiu como um projecto emergente, contínuo e gregário, com uma forte vertente humana e com o grande objectivo de mover massas num processo de criação sem limites sociais ou temporais. O objectivo core é dinamizar a sociedade, através de projectos artísticos que devem partir do aproveitamento dos seus recursos. Assim, podem ser expandidos vários caminhos artísticos, tendo como base a crença de que todos podem gerar arte e de que esta pode acrescentar caminho à sociedade.
            Qualquer leitor pode questionar-se relativamente à utilização da arte como catalisador do desenvolvimento supramencionado.

            Os nossos olhos vêem que arte deve ser uma forma de valorizar cada elemento pertencente a um grupo como "pessoa dos seus talentos", de promover o pensamento divergente, a exploração de alternativas e assim, os processos criativos, tendo como destino o desenvolvimento humano e social. A aprendizagem da utilização dos recursos já existentes permite a economia de recursos humanos e materiais e assim, cada vez mais, o desenvolvimento "reciclado". 

            Numa altura em que a sociedade já nada espera de si, em que os recursos parecem inexistentes e quando se espera que a solução seja extrínseca, o PROCESSO(s) ambiciona reverter as crenças para um controlo interno nos desafios que surgem. Assim, o trabalho artístico, nas várias áreas, prevê-se como catalisador de mudança e de evolução cognitiva, emocional e social.
            A ideia que se coloca como base do projecto é a de que a arte não representa um hiato, um local, um molde. Vive de co-construções contínuas entre Pessoas e deve integrar o seu quotidiano, sendo envolvida nas suas tarefas, hábitos e desafios. Aqui, não se pretende que o PROCESSO(s) seja um museu ou um centro de arte. Pretende-se que seja uma ferramenta, um catalisador de desenvolvimento comunitário, que estará em constante deslocação, interacção e evolução. Em verbalizações práticas, o nome surgiu de um insight que prevê arte a partir do processo individual que nos nutre, mas também dos processos entre os vários singulares. O Projecto PROCESSO(s) pretende assim iluminar talentos, através da promoção do auto-conhecimento e maximização de competências.

            Numa visão mundial, muitos países adquirem muito do seu capital através da arte (temos o exemplo da China que foi o líder mundial do mercado da arte em 2011, segundo o Jornal Público), tendo muitas categorias laborais neste mercado; Portugal ainda não dedica recursos suficientes ao desenvolvimento de ferramentas que lhe gerem este valor. O objectivo é conceber vontade, oportunidade e valor a este mercado, na medida em que todos podem ser arte e a arte pode ter várias figuras. Mais ainda, mostrar que arte pode ser de/para todos e não apenas de uma elite. Neste sentido, aumentando o campo de acção em vários contextos, pretende mostrar-se que o que pode ser arte numa Instituição Social, pode sê-lo de forma diferente numa Faculdade de Psicologia, numa Empresa de Publicidade ou numa Livraria. O PROCESSO(s) pretende assim não cingir o conceito, mas expandi-lo, aumentando a probabilidade de criação e de sucesso. Aqui não há populações prováveis ou mais talentosas a priori.

            Mergulhando no contexto social, actualmente com maior interacção com o PROCESSO(s), tendem a ser gastos muitos recursos em apoios pontuais, que acabam por ser interrompidos e/ou coagidos. Se for realizado um trabalho contínuo e aprofundado, valorizando o papel social activo dos elementos que dão vida a estes sistemas, não se corre tanto o risco de perder o processo de desenvolvimento. A arte parece constituir uma das mais valiosas ferramentas para o desenvolvimento pessoal e, assim, frutífero para qualquer população. Além disso, não raras vezes, a fonte de reorganização é implementada a partir do exterior e nem sempre pensada como passível de ser auto-gerada. Desenhando um exemplo prático: uma instituição pode desenvolver um projecto artístico e assim o valor será individual e desenvolvimentista, mas também social e por conseguinte podemos tracejar um avanço económico. Considerando-os como vectores.
            O facto de ser um projecto social conjunto entre várias pessoas e equipas também educa para a gregariedade, onde cada um deve sentir-se parte integrante do projecto, aumentando assim o sentimento de identidade e pertença. Esta dança avança na visibilidade de trabalhos que a maior parte das vezes não passam as portas de um "pequeno mundo".
Desta forma pretende-se também, num degrau menos niilista, aumentar o rendimento destes locais, que muitas vezes, não tendo o apoio financeiro necessário, acabam por fechar, deixando pelo caminho muitos selves em desenvolvimento.

            Este projecto não quer ser um momento estanque, temporal; não é um momento que privilegia uma classe, uma elite; não é um museu, nem uma exposição. É um trabalho de co-construção da obra- que é plural -, entre pessoas e entre as suas várias formas de Ser-Pessoa e terá uma continuidade conceptual. Mais do que tudo, que arte possa ser mote de evolução de um país e de uma sociedade, tanto a nível humano como económico.

Não deixemos de pensar que uma sociedade desenvolvida é a sua própria cura.

            Ana Rita Caldeira da Silva

segunda-feira, 25 de março de 2013

[Comboio do Desenvolvimento]: O Tempo na Psicologia do Desenvolvimento


Vimos, há uns dias, que não há desenvolvimento psicológico sem experiência de si e do mundo e vimos também que essa experiência é activamente construída por cada um de nós.
Vejamos então, hoje, porque não há desenvolvimento psicológico sem a experiência de si e do mundo que acontece no tempo.

Tal como Guitton, o filósofo da nossa história – lembram-se? – muitos filósofos, físicos, biólogos… e, também os psicólogos, sentem necessidade de compreender o tempo.

Porquê?
Porque a passagem de um comboio, a sucessão das estações do ano, o ciclo de vida das plantas e dos animais, o crescimento de uma criança, enfim, a observação de muitos fenómenos e situações que mudam, que se sucedem ou que se repetem, nos levaram a generalizar e organizar essas mudanças em fases, períodos, épocas…que  ajudam a delimitar e até a medir o tempo com grande precisão. E, particularmente, porque a experiência empírica ou a observação científica dessas mudanças levaram, uns e outros, a distinguir o próprio tempo, a noção de tempo, daquilo que pudemos designar processos temporais, ou seja, o que ocorre no tempo.

“Se ninguém me perguntar, eu sei o que é o tempo. Mas se alguém me pergunta, eu não sei o que dizer”. St Agostinho (354-430).
 
Tal como St. Agostinho, muitos filósofos e físicos teóricos têm interrogado a própria noção de tempo, a origem, a natureza, os componentes, a direcção, a medida disso a que chamamos tempo.
Debatem, por exemplo, a realidade do tempo. Será que tem uma realidade ontológica, pois existe em si mesmo e flui uniformemente e independente do movimento ou da mudança dos corpos no espaço (Newton)? Ou será que tem apenas um valor relativo, pois só existe porque existem fenómenos e criaturas e só a ordem sucessiva das coisas materiais nos dá a noção de tempo (Leibniz)? Será que é uma “forma da sensibilidade” do homem, uma noção a priori, inerente à nossa forma de percepcionar, organizar e conhecer o mundo (Kant)? Ou será que o tempo permanece essencialmente subjectivo e mais não é que a experiência do devir, da pura duração, a consciência que temos do processo de contínua mudança que vivemos (Bergson)? 
Debatem, por exemplo, a direcção do tempo, se ele é cíclico e eternamente reversível, tal como nos sugere o retorno regular dos fenómenos da natureza (e.g., Platão e muitos filósofos greco-latinos), ou se é linear e irreversível, como sugere a nossa própria experiência de causas e efeitos ou simplesmente daquilo que um dia antecipámos como futuro, que agora é presente e que logo recordamos como passado (e.g., Séneca, Newton, Leibnitz, Kant).
Ou será que o tempo é essencialmente relativo à velocidade dos corpos, esse tempo-espaço que não é independente do observador, nem da matéria do universo e de que nos fala a física moderna (e.g. Einstein)?
Enfim, tanto as conceptualizações filosóficas, como as hipóteses dos físicos continuam a alimentar o debate sobre a origem, as propriedades, a medida do tempo e, no limite, continuam ainda hoje a legitimar aquela antiga confissão de St. Agostinho.

Ao contrário dos filósofos e dos homens das ciências da natureza, para os psicólogos e – perdoem o viés! – ainda mais para os psicólogos do desenvolvimento, o próprio tempo não é interessante em si mesmo. O que nos atrai são os processos temporais de que falámos, ou seja, aquilo que ocorre no tempo, a experiência que construímos, que transforma o tempo dos relógios e, que assim, vai construindo o tempo psicológico de cada um de nós.
Quando tinha decidido não abusar mais da vossa paciência e terminar, por hoje, este pequeno texto, abri o nosso Blog e descobri que o Raúl Melo escolheu também fazer-nos reflectir sobre o tempo. Uma coincidência “mesmo muito Boas”, diria o Tiago Fonseca! Porque não o tínhamos combinado, nem sequer nos conhecemos pessoalmente e temos certamente pontos de vista comuns e diferentes para olhar o tempo. Mas, não é uma coincidência estranha, um simples acaso. Um e outro somos, de facto, psicólogos e, tanto a “vivência particular do tempo” de que o Raul Melo nos fala, como a experiência que ocorre, que muda e que se sucede no tempo são componentes fundamentais da conduta humana, do conhecimento que temos e dos diferentes formatos de avaliação-intervenção psicológica que, uns e outros, utilizamos.

Fico então aguardar, curiosa, o que o Raúl Melo nos irá ainda revelar sobre a nossa experiência subjectiva e prometo continuar ainda a reflectir convosco sobre o tempo que atrai os psicólogos do desenvolvimento.

quarta-feira, 20 de março de 2013

[The Naked Lunch]: Da Cannabis Passa-se para a Heroína


“Da cannabis passa-se para a heroína e depois acaba-se a vida!”

Depois do post anterior quase que me apetecia ter só testemunhos de pessoas que estão em ou fizeram um processo terapêutico. Espero em breve poder trazer-vos outros testemunhos. Se alguém se quiser voluntariar e enviar anonimamente o seu testemunho pode sempre fazê-lo através do e-mail do blog.

Desde já peço que não se assustem com o título do post. Andava aqui a pensar sobre o que escrever, sendo que o mês passado andámos focados nas permissões e nas proibições, e lembrei-me desta frase. Confesso que não me lembro onde a ouvi, mas lembro-me de a ouvir quando era miúda e da confusão que esta ideia ligada ao consumo de droga gerava. A ideia era que basicamente a pessoa experimentava um cigarro de haxixe e a partir daí já não conseguia parar e posteriormente passava para as drogas ditas “pesadas”. A realidade é que as coisas não se processam dessa forma e dava-se o caso de isto ser dito com o objectivo de evitar consumos, mas só gerava confusão. Porque efectivamente havia pessoas que experimentavam um cigarro de haxixe e não se sentiam “agarrados” e pensavam “ah então até posso experimentar outra droga, que isto não é nada como dizem praí”.
Penso que muito se evoluiu desde aí, tanto ao nível da prevenção, como ao nível das campanhas de redução de risco e minimização de danos. Cada vez mais é necessária uma diferenciação no que concerne aos efeitos e riscos das diferentes substâncias e não colocá-las no mesmo saco. A própria forma como se tratam/abordam os consumidores também deve ser diferenciada, tendo em consideração que o uso/abuso/dependência de drogas e os seus significados são diferentes de individuo para individuo, e mais diferentes serão em diferentes épocas e diferentes culturas. Possivelmente é isto que acaba por tornar a intervenção da psicologia tão importante neste contexto. E se isto parece algo básico, implica algum trabalho, conhecimento das próprias substâncias, não se deixar levar por preconceitos e acima de tudo estar consciente e disponível para abraçar a complexidade e riqueza que é ser humano.
Apesar da prevenção não ser apenas veiculada pelas palavras, convenhamos – as palavras e a forma como comunicamos têm um impacto gigante nos dias que correm ainda por cima numa era em que estamos todos interconectados à distância de um click.

Façam bom uso das vossas palavras!

Ana Nunes da Silva

terça-feira, 19 de março de 2013

Prenda Emocional!?


Remeto as considerações sobre a existência do Dia do Pai para a publicação sobre o Diada Mulher, sendo que na minha opinião, são diferentes. Este segundo remete ao estereótipo antigo, já discutido na dita publicação. O primeiro, existe em paralelo com o Dia da Mãe. Podemos dizer que são “dias” comemorativos criados pelo e para o comércio, mas a comemoração dos dois inibe a criação e manutenção do estereotipo de um deles.

Assim, gostava apenas de reflectir convosco sobre esta imagem, relativa ao Dia do Pai, mas com uma mensagem maior, parece-me.

 
Vivemos todos numa sociedade consumista, onde muitos dos valores que nos são transmitidos socialmente passam pela aquisição e atribuição material, como é o caso da troca de prendas no Natal, as prendas de aniversário e destes dias comemorativos (etc).

O valor do beijo e do abraço perde força quando comparados com uma prenda material? Ou serão estas representações emocionais mais fortes e memoráveis? Penso que a sociedade se arraste e posicione no sentido da memória ligada ao material, e noutros nichos, ligação ao emocional revelado no gesto e/ou na intenção. As duas são encontradas, sendo a segunda mais adaptativo em termos humanos.

É importante que nunca esqueçamos estes momentos emocionais, estes gestos e as suas implicações, que não tenhamos vergonha das ligações emocionais que nos unem a todos e que consigamos promove-las sempre de forma saudável, pois são elas que toldam e moldam a nossa regulação emocional, que, quando não é cuidada, nos transmite informação errónea sobre as nossas necessidades psicológicas, levando à sua não satisfação, e assim, à nossa não óptima adaptação e funcionalidade.

Permitam-se ser emocionais, mas façam-no de forma equilibrada e regulada!

Feliz Dia do Pai!

Tiago A. G. Fonseca

[Psicologia e Política]: Instabilidade Política 2: O Outro Lado

É importante que se perceba e esclareça que política não se resume a partidos políticos.
Política é a acção em função das pessoas, normalmente, relativo à gestão e administração de grupos populacionais, como autarquias ou estados e países. Mas desengane-se quem acha que agir para e pelos outros não é sempre política. Quando participamos numa associação, num grupo desportivo, numa instituição, e agimos no sentido da promoção dos outros, criando plataformas e condições favoráveis e de melhoramento da vivência dos outros, seja com que tipo de serviços forem, estamos a fazer política.
Aqui, e dependendo – obviamente – das intenções de cada um, estaremos a promover a nossa própria auto-estima, realizando acções que promovem algo de bom nos outros. A continuação de boas práticas promove outras, motivando quem as pratica. É importante termos objectivos e conseguir alcançá-los, mas sobretudo, pensar como os podemos alcançar. E esta é claramente uma boa forma. A esperança não desaparece quando vemos que a nossa acção faz bem nos outros, e que os outros se sentem mais esperançados e motivados na sua própria acção e vivência pelo exemplo que lhes foi prestado. Esta é a cooperação da sociedade, funcionar uns para os outros. Isto é fazer política.
Todas as variáveis que foram faladas nesta e na publicação anterior – esperança, percepção de controlo e de segurança, auto-estima e motivação – dependem da nossa percepção do quanto estamos inseridos, do quanto somos ouvidos, do quanto nos parece que algo é feito por nós quando é evocado em nosso nome. Mas nem sempre esta percepção é correcta, pois as variáveis que a influenciam são muitas.
Diria que a percepção de controlo tem aqui um papel chave. Se percebermos o que podemos influenciar no meio, se percebermos o que podemos e devemos controlar do que nos rodeia, se percebermos que devemos partilhar o controlo sobre diversas actividades e situações, conseguimos estar melhor connosco próprios, em coerência, e promover em nós bem-estar psicológico, essencial para a calma necessária à percepção correcta das outras variáveis.
Nem tudo é realidade, mas tudo são percepções.

Tiago A. G. Fonseca

domingo, 17 de março de 2013

[PREVENIcaNDO]: O corpo é a nossa morada


O corpo é a nossa morada.
Quando pensamos no processo preventivo, necessariamente em algum momento damos connosco a pensar o corpo que ocupamos, como ele nos preenche e nos limita, como o vemos e como nos vemos através dele.
A comunicação que estabelecemos connosco próprio através do corpo é incrivelmente importante para uma plena consciência de nós e é tão frequente não estarmos atentos, não valorizarmos a insónia, a dor de estômago, o maior ou menor apetite, a dor no peito, na cabeça… na alma.
Não é obrigatoriamente um tema adolescente, porque a nossa relação com o corpo é transversal ao longo de toda a nossa vida. Numa primeira fase é porque não é suficientemente grande, depois é porque tem borbulhas, ou porque não é suficientemente largo, é demasiado volumoso ou pouco atraente. Depois é porque nem sempre aguenta o que queremos que aguente, dá sinais de fragilidade que antecipa a aproximação do envelhecer. Aí entram as rugas, o maior cansaço, o esquecimento e coisas que tais.
Mas ao mesmo tempo o nosso corpo é a nossa morada. É onde recebemos os amigos, onde nos refugiamos quando estamos tristes, onde fazemos experiências e onde trabalhamos. Por vezes pode ser um espaço abandonado, a precisar de obras ou reparações. Mas o mais fascinante é que é também um espaço onde guardamos segredos com mais ou menos mistérios, com interditos e recantos sombrios a que não damos acesso a ninguém.
Onde localizaríamos esses espaços no nosso corpo. Esta é a pergunta de uma dinâmica simples onde cada um pensa em partes do seu corpo e lhe atribui uma função como se de uma casa se tratasse. Qual é a sala de visitas? Onde trabalho? Onde me escondo? Onde descanso? Onde escondo os meus segredos? Com recurso ao desenho ou com base simplesmente na reflexão, exploram-se significados no nosso corpo. “Eu recebo os meus amigos nos olhos”. “Eu não. Eu acho que é nas mãos, por causa do toque”. “O meu segredo está na barriga”. “O meu é a boca quando a fecho”. Há algum espaço da casa a precisar de reparações? “Sim os meus olhos. Ando a ver mal” “Sima a barriga. Estou gordo”, “Sim a minha cabeça. Ando a bater mal”.
Simbolizar o corpo é reduzir a relação automatizada que frequentemente temos com ele, ver para além da máquina que não pode falhar, descobrir outras funções para além do veículo que nos leva aonde queremos ir. Como cuidas da casa que habitas?

Raúl Melo

sexta-feira, 15 de março de 2013

[Criminal-Forense]: Recordar e Testemunhar Crimes


Um dos meios de prova mais importantes para o julgamento de um caso é a prova testemunhal, considerada como a “prova rainha” que se baseia no depoimento em tribunal. Existem depoimentos diretos, que resultam da obtenção de conhecimento em primeira mão, e depoimentos indiretos, cujo conhecimento advém do que se ouviu dizer a determinadas pessoas, sendo que as últimas podem também ser chamadas a depor. Não são admissíveis rumores públicos e a testemunha não é obrigada a responder a perguntas quando alegar que das respostas resulta a sua responsabilização criminal.
Existem vários factores que podem interferir com o recordar e testemunhar um crime, tal como perguntas sugestivas e impertinentes ou mesmo o próprio ambiente do tribunal ao qual não se está familiarizado; no entanto, já na própria memorização do acontecimento existem outros fatores que poderão prejudicar a recordação e consequentemente o testemunho. O stress, a ansiedade e o consumo de substâncias são exemplos de fatores internos, sendo que relativamente ao álcool, a capacidade de recordação é também influenciada por outras caraterísticas, como a experiência passada do individuo com a substância, a saúde e a condição física. Também a atenção do indivíduo na altura da ocorrência pode interferir: muitas vezes a testemunha pode nem se aperceber que está na presença de um crime até o criminoso se ir embora ou a polícia chegar ao local.
Relativamente a factores externos que possam afetar a recordação e o testemunho, salienta-se a oportunidade para ver, que por sua vez pode ser determinada pela iluminação, a distância, a existência de obstáculos e o tempo de exposição (se a cara do assaltante for observada durante mais tempo, obter-se-á uma recordação mais precisa). Pelo contrário, se uma ofensa ocorrer repetidamente, será mais difícil para a testemunha/vítima recordar-se de um episódio específico, como em situações de abuso sexual. O intervalo entre a exposição ao crime e o depoimento, pode também prejudicar o testemunho, pois a probabilidade de esquecimento e/ou incorporação de informação – como a proveniente dos media ou de outras testemunhas - é maior.

Ana Lopes

quarta-feira, 13 de março de 2013

[ConsultoriaRH]: EXPO RH – 13 e 14 de Março

Transformação e mudança” é o mote do ExpoRH 2013 que terá lugar nos dias 13 e 14 de Março, no Centro de Congressos do Estoril!
 
Trata-se de um evento gratuito, que reúne diversos profissionais da área da gestão de pessoas, revelando-se uma das melhores oportunidades para interagir com a fauna dos recursos humanos! Assim, independentemente do toque irónico desta afirmação, a verdade é ninguém é uma ilha e sozinhos não vamos muito longe! É importante estarmos abertos a novas ideias, novos conteúdos e novas abordagens, para que proactivamente consigamos investir em nós mesmos, desenvolvendo não só a nossa forma de pensar, mas também o nosso espírito crítico, alargando ainda o nosso conhecimento da nossa própria área de actuação. Obviamente que neste evento vamos encontrar speakers mais ou menos interessante, portanto a chave está numa boa análise cuidada do programa, seleccionando não só os temas que nos despertam mais interesse, mas também os interlocutores.

Entre visitantes, expositores e speakers, cada um tem a sua agenda pessoal, e os seus próprios objectivos a atingir com a participação nesta conferencia…. Eu por minha parte acho que é uma excelente oportunidade para conhecer interlocutores interessantes, bem como práticas de recursos humanos com as quais não tenho oportunidade de contactar diariamente.

Em suma, quem tiver recursos “temporais disponíveis”, devia pelo menos ir um dia, principalmente psicólogos recém ou em via de se formarem!

Inês Lemos

domingo, 10 de março de 2013

[The Naked Lunch]: Perspectiva de alguém que decidiu pedir ajuda

Pedido de ajuda e Processo Terapêutico

Olá! Decidi pedir a alguém que partilhasse a sua perspectiva associada ao pedido de ajuda psicológico. Apesar de não estar directamente relacionado com consumos, este post vem na sequência do anterior associado ao aumento de consumo de substâncias associado a depressão e ansiedade. Pareceu-me bastante interessante abordar a dificuldade que é pedir ajudar e a vivência de um processo terapêutico… Aqui ficam as palavras de alguém que não se importou de partilhar a sua experiência. Desde já aqui fica o meu apreço e gratidão pela sua disponibilidade.

“Bem, se me estás a ler provavelmente estarás em busca do teu problema e a internet por mero a caso ou não, trouxe-te até aqui. Sei bem o que é isso. Primeiro chama-nos devagarinho como se fosse uma “vozinha” lá ao fundo...depois quando dás por ti essa “voz” está te a gritar repetidamente aos ouvidos e não consegues pensar em mais nada a não ser nesse mau estar que estás a sentir. Começamos por pensar que somos loucos, diferentes, começamos por esconder o problema, ou até muitas das vezes acabamos por tentar esconder o problema de nós mesmos; os nossos pensamentos começam a viver em círculos, bolas de neve...o nosso corpo começa a corresponder ao que pensamos e à forma como estamos a pensar sobre o problema, arranjamos mil e uma desculpas ou para não pensar, ou pensamos freneticamente, alguns procuram amigos, companheiro/a, família em momentos de aflição, outros preferem estar sozinhos; outros recorrem a algum tipo de droga, muitas das vezes acabamos por até recorrer a algum tipo de cognição que faz com que agrave mais o problema. Enfim todos reagimos de forma diferente. Mas todos deveremos aceitar que não estamos bem e tentarmos encontrar a melhor solução.

Essa vozinha de que falei aparece no teu corpo para te alertar de algo; não...não me refiro a nenhuma voz no sentido literal da palavra, mas de algo que está a chamar o teu organismo em forma de reacção física para determinado momento emocional que estás a viver ou viveste da tua vida. Começas por sentir picadas, batimentos acelerados do coração, espasmos, dormências, problemas intestinais, desconcentração, falta de ar, nós na garganta, vontade de salivar, vazio, enfim se não referi nenhum tipo de reacção/sintoma foi porque não me lembrei e porque felizmente não os tive a todos, até porque diferencia muito de pessoa para pessoa. Geralmente no início pensas que essas sensações vão passar, dizes para ti mesmo que é temporário, outras vezes pensas que é por ter bebido um cafezito a mais, andares a dormir mal, a realidade é que estás com um problema e não vale a pensa fugires. “Podes fugir mas não te podes esconder” seria até uma boa frase para relacionar com tudo isto. Ainda noutro dia estive com uma amiga, que esteve ao telefone cerca de uma hora com outra amiga dela que estava na auto-estrada e não conseguia respirar e nem se concentrar no momento presente, e procurou-a para conseguir fazer o caminho até casa (a desculpa dela era o excesso consumo de cafeína na coca-cola que tinha estado beber...).

Quanto mais fugires do problema e inventares para ti mil e uma desculpas (em que até os portadores desta coisa costumam ser peritos), pior te sentirás, e o teu corpo ainda vai se vingará mais por não o enfrentares! Já devem saber que “vozinha” é esta, que “coisa” é esta de que estou a falar...crises de ansiedade...ataques de pânico...”adornozinhos da ansiedade”, como lhe queiram chamar! Se quiserem até a podem chamar de inferno! Sim, porque como eu e como muitos vocês já devem ter vivido momentos de inferno por terem que conviver com esta característica inerente a vocês mesmos. O importante é saber que existe forma de conseguir conviver com este problema que muitas das vezes é acentuado em determinado momento da vida por x, ou por y factor que diferencia de pessoa para pessoa.

Eu levei algum tempo a procurar ajuda, acho que existem dentro de nós ideias bastante erradas em relação à saúde mental, induzidas pela própria sociedade material que vivemos, que não está preparada para falar de um dos mais potentes órgãos que temos - a nossa cabeça - e no fundo do nosso coração - as nossas emoções.

No início custa, custa termos que enfrentar isto, custa ter que tomar medicação por vezes, custa até abrirmo-nos com alguém que não conhecemos, e toda esta ideia inicialmente nos parece estranha. Nem sempre a terapia podia funcionar (por acaso a minha primeira experiência terapêutica não funcionou); mas depois começamos a ganhar uma grande magnitude sobre o tema, sobre nós mesmos, ou até mesmo sobre quem nos rodeia. Aprendemos uma série de coisas desconhecidas sobre nós, outras reforçamo-las, há dias que saímos ainda mais ansiosos da sessão, outros em que parece que aquela sessão nos limpou por completo a alma, enfim se vais iniciar esta experiência, será sem dúvida uma viagem muito interessante ao pais da complexidade do teu eu, rodeado de distorções e muitas vezes maravilhas que tu desconhecias. Vais ter um guia nessa viagem que será o teu terapeuta, que te indicará o melhor caminho segundo o que queres e precisas procurar em ti; ele não te julgará nessa luta. Será um trabalho de ambas as partes. Com muitos tpcs pelo meio, e muitas descobertas e às vezes lágrimas. Eu ainda continuo em terapia e estou disposta a vir aqui falar-vos mais vezes da minha experiência e da forma como a vivo.

Deixo-vos desta vez um pequeno grande conselho, quanto mais tempo levarem a procurar ajuda, mais grave se tornará o problema, por isso sem medos, sem desculpas e sem complicações recorram agora a ajuda terapêutica.”

Mais palavras para quê?
(mais uma vez OBRIGADA a quem partilhou estas palavras)

Ana Nunes da Silva

sexta-feira, 8 de março de 2013

Porquê um Dia da Mulher?

Antes de mais, feliz Dia da Mulher!
Não serve esta publicação como forma de protesto contra a existência de um dia comemorativo da mulher, ou porque não existe um do homem ou apenas porque sim. Serve para mostrar um outro lado da existência destes dias e deixar uma ideia para reflexão.
 

A existência de um dia comemorativo de algo serve vários propósitos de agenda social e cultural, bem como uma interligação entre o comemorado e quem comemora.
A mensagem transmitida é que é neste dia que se criam actividades de comemoração do comemorado, que se alerta a população para situações urgentes e necessárias e que se promove algo, como igualdade e justiça num determinado tema.
Mas deveria ser suposto comemorar a mulher todos os dias? Não deveria a população ter atenção ao seu nível de diabetes todos os dias? Não deveriam todos os seres humanos ter os mesmos direitos? E todos saberem e promoverem isto todos os dias? Então o paradigma tem de ser outro. Educar, todos os dias, até ser padrão cultural, que se deve ter orgulho em quem se é, que nos devemos preocupar com determinadas situações e que, acima de tudo, temos de ter respeito pelas escolhas e opções de todos.
Os estereótipos são do tamanho da importância que lhes damos. Quanto menos importância, menos influência tem o estereótipo e mais normalizado se torna. Esta normalização promove padrões de comportamento adequados, tornando os dias comemorativos em situações diárias.
Fica a ideia!

Tiago A. G. Fonseca

segunda-feira, 4 de março de 2013

[Psicologia e Política] Instabilidade Política…

… é Instabilidade Social. Instabilidade Política é Instabilidade Social.

A Instabilidade Política – Nacional e Internacional – não é coisa de políticos. A ser coisa, é coisa de todos. Esta instabilidade cria - além das óbvias - mais dificuldades do que se pensa, estendendo-se além das económicas. E as dificuldades psicológicas que lhe seguem são bem pesadas e reais. Ficam apenas alguns tópicos para reflexão.

Percepção de Controlo – Quanto mais nos parece que não controlamos o nosso meio, menos percepção de controlo iremos ter. Esta percepção estagna a motivação de criar, planear e alcançar objectivos.
Auto-estima – Sem percepcionar boas novidades em nosso redor e nas nossas pessoas, o “gostar de nós” é dificultado. Acrescem aqui as dificuldades reais existentes que relacionam a auto-estima com o tópico seguinte: Esperança.
Esperança – Este sentimento é essencial à vida. A baixa auto-estima é a chama que acende a falta de esperança: em nós próprios e no futuro num geral. Esta falta de esperança é promovida pela percepção de insucessos nos objectivos, pessoais e colectivos.

Sim, é um ciclo. Percepção de instabilidade leva à percepção de controlo diminuída que, ao atenuar a motivação para a acção eficiente, promove a baixa-auto estima. Esta leva ao sentimento de esperança reduzido, ou seja, num futuro de reduzidos objectivos.

            É importante ter noção que todos, enquanto cidadãos, somos cuidadores e responsáveis pela instabilidade política (como se de uma pessoa se tratasse), e que todos, e não só os agentes políticos, somos cuidadores e responsáveis pela instabilidade social (como se de uma pessoa se tratasse).

            Na próxima publicação da rubrica, irei escrever sobre o mesmo, mas de uma perspectiva interventiva, onde nós, cada cidadão, pode intervir nestes seus tópicos de forma a regulá-los.

            Tiago A. G. Fonseca

sábado, 2 de março de 2013

Motivações para a Psicologia #08

Dentro da Psicologia, porquê essa área?



- Marisa Esteves, 4ºAno, Mestrado Integrado em Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações, Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa:

Essa questão prende-se essencialmente com os objectivos pessoais de cada um, dada a multiplicidade de funções que se podem desenvolver nesta área, mas que no meu caso foi essencialmente dirigida pela vontade de compreender a importância das pessoas para a eficácia das organizações, e estar envolvida na avaliação da adequabilidade de estratégias e técnicas e implementação destas para promover a adequação profissional. Atrever-me-ia a dizer que os Psicólogos das organizações no futuro serão imprescindíveis no sentido de ajudar a adaptar os Recursos Humanos à mudança, promovendo nestes os comportamentos adequados por forma a prepará-los para lidar com a imprevisibilidade, relevando a importância do Psicólogo como elemento integrador ao nível da multidisciplinaridade na Empresa e complementaridade de papéis no trabalho de equipa com todos os profissionais.
A nível mais pessoal, devo dizer que esta área me satisfaz, na medida em que me irá permitir expressar, de forma criativa, ideias e possíveis projectos que terão efeito não só numa Organização em si, mas também no dia-a-dia de cada trabalhador, e que por sua vez se reflecte na felicidade e bem-estar de cada um.


Tiago A. G. Fonseca

sexta-feira, 1 de março de 2013

[PREVENIcaNDO]:Eu já me apresentei?


É uma pergunta estranha de pôr ao 4º texto. Mas ela faz sentido a vários níveis. Acham que já perceberam o sentido da minha linha de escrita? Acham que já começam a vislumbrar a pessoa que está por detrás dos textos? Se sim, isso é bom? É bom saberem quem sou? Quais são as implicações desse tipo de assunção? Provavelmente passarão a saber com que contar de mim. Por isso passarão ao lado da rubrica, ou antes pelo contrário procurarão ler mais. Serei considerado mais previsível, o que reduz a necessidade de uma atenção. Serei assumido como um dado adquirido, o que reduz o risco mas também o investimento. E deste modo a relação prossegue na base da superficialidade e do pressuposto.
Esta questão é muito interessante no plano preventivo. Assumindo que a segurança depende do sentimento de pertença e da qualidade dos vínculos que se estabelece, uma prevalência de relações superficiais traduz uma rede de suporte frágil que apenas permite arriscar a partilha de medos banais e necessidades básicas. Ou então, procuramos suporte em forma de passagem ao acto, descarregando no outro, esperando que o acaso nos favoreça e que as expectativas que criamos em relação à ajuda dele não falhem e que alguém esteja lá para nós.
A necessidade de compreensão do outro, de perceber as afinidades, os estilos relacionais é fundamental na promoção de um bem-estar generalizado. Daí que nos processos grupais, a promoção regular de momentos de (re)apresentação cumpram um papel essencial. É possível continuar a descobrir no outro facetas que nos surpreendem. Uma das minhas dinâmicas favoritas envolve um saco de objectos. Como é que me apresento a partir do objecto que me sai em sorte? O que posso dizer de mim desafiando o concretismo do objecto. O que dizer de mim a partir de um preservativo? Ou de uma lâmpada? Ou de uma chave de portão? “Que sorte. Ao meu vizinho saiu um caleidoscópio”. A sorte pode ser madrasta, mas a vida é assim. Não nos sai o que queremos, mas o que nos é proporcionado pelo contexto e pelas oportunidades. Depois, tudo depende do que fazemos com o que nos é proporcionado. Recriamos? Inventamos? Invejamos?
A instrução remete para dizer alguma coisa de si a partir do objecto, mas os outros podem também ajudar. Eu sou o que de mim me apercebo, mas sou também o que o outro me devolve.
E o dinamizador inventa. “Partam para a troca. Se virem um objecto que vos agrade mais, negoceiem.” Acomodo-me ao que o acaso me destinou ou assumo-me como activo na procura de um Eu mais próximo do meu desejo? Saberei encontrar forma de me expor? De vender o meu objecto para o trocar por outro? Conseguirei eu perceber as necessidades do outro para as encontrar e usa-las como moeda de troca para obter o objecto por mim pretendido? E na perspectiva inversa, saberei eu resistir à pressão do outro e preservar o meu objecto e recusar uma troca que me é indesejada? Por dez minutos, jogamos num espaço protegido, realidades que se jogam todos os dias nas vidas de cada um. Há quem diga, que a artificialidade retira à dinâmica profundidade. Mas a metáfora não deve pretender substituir-se à realidade. Apenas ilustrá-la. Torná-la acessível à compreensão e à consciência. E com isso aumentar o poder de se agir sobre o que nos envolve e nos preenche.

Raúl Melo