sábado, 11 de maio de 2013

[PREVENIcaNDO]: Em Torno da Comunicação

Já vos falei, em identidade (quem sou), do corpo, de como abrigo nele diferentes partes de mim e do espaço que ocupo, com quem o troco e o que o torna o meu espaço. Hoje vou falar-vos de comunicação. Estar com alguém, comunicar, é um factor protector essencial na prevenção. Como percebemos o que o outro nos diz? Encontramos algum significado no seu dizer? E esse significado encontra alguma ressonância nas nossas vivências do passado que nos permite seleccionar uma resposta? Tenho eu vontade de responder? E tenho eu as palavras para responder? E se o fizer consigo eu perceber como é que o outro está a reagir à minha comunicação? Este é o ciclo comunicacional onde pode surgir o bloqueio. A própria atitude, postura corporal, o tom de voz, poderão ser entraves quando entram em dissonância com a mensagem. Finalmente a própria motivação ou disponibilidade emocional introduzem ruídos na comunicação que estão frequentemente na origem de mal entendidos e da construção de distâncias entre as pessoas.
O dizer algo a alguém é pôr fora de nós o que está unicamente na nossa cabeça, dando-lhe deste modo existência partilhada. Dizer é manter a ponte entre duas pessoas, protege-la da erosão do ritmo e do tempo.
Há inúmeras dinâmicas que se debruçam sobre este tema. Pedir a cada elemento do grupo que transmita uma emoção específica (apenas do seu conhecimento) ao dizer uma frase específica, permite aos jogadores consciencializar quais os elementos que permitem identificar a emoção transmitida. Frequentemente os jogadores recorrem à linguagem corporal para melhor exprimir a emoção mas o dinamizador poderá dificultar-lhes a tarefa pedindo que a mensagem seja transmitida sem a possibilidade dos receptores visualizarem o emissor. Conseguirá o jogador colocar na entoação, no ritmo dos discurso ou na dicção os sinais que permitam identificar uma emoção? Esse é sem dúvida o desafio.
Noutra perspectiva pode-se pedir para que alguém comunique uma ideia sem poder utilizar a palavra que diretamente a identifica. Pode-se pedir a diferentes jogadores que adoptem ao longo de uma conversa normal, um conjunto de posturas (estar de costas para o grupo, abanar repetidamente a perna, posicionar o corpo orientado para que comunica, bocejar constantemente, …) e pedir no final que as pessoas transmitam o que sentiram ao longo da conversa em termos de atitude ou receptividade por parte dos colegas. Pode-se pedir que uma mensagem seja transmitida à distância no meio de o maior dos ruídos, ou contar-se sucessivamente uma história passada de participante para participante e analisar-se a perda progressiva de conteúdos e quais os que conseguem ser mantidos inalterados até ao final da sequência.
São muitas as dinâmicas que podem ser usadas para trabalhar a comunicação. Mas mais do que as dinâmicas em si, é na reflexão que melhor se trabalha a comunicação. Contem-me o que se passou no jogo? Cada participante narrará uma perspectiva pessoal de uma vivência comum, Não há leituras certas e erradas, apenas leituras pessoais, feitas a partir da sensibilidade de cada um e dos filtros que a experiência impõe. O que é que sentiram no jogo? À acção alia-se a emoção em todos os seus gradientes. Haverá convergência ou divergência mas é na diferença que mais se aprende e no respeito pelo sentir dos outros. Como se organizaram para ultrapassar a tarefa? O emergir da estratégia, pessoal ou colectiva, partilhada ou imposta, passiva ou ativa, confere à acção um novo significado dentro do qual se pode avaliar a eficácia e a capacidade de adaptação. Qual era a metáfora deste jogo? A análise volta-se agora para os conteúdos, a mensagem subjacente à acção. Tem a ver com a cooperação, tem a ver com gestão de emoções, tem a ver com… E assim se estabelece uma ponte entre o lúdico e o quotidiano a meio caminho entre o agir e o pensar. E finalmente… O que aprenderam? O que fariam diferente se voltassem a jogar?
Nesta partilha todos são actores, uns porque se expressam, outros porque ouvem, outros ainda porque são a plateia do drama posto em cena. Até vocês, leitores, têm um papel nesta dinâmica. São validadores da vivência de alguém. E se alguma destas ideias dispersas der origem a uma nova acção, são perpetuadores… depositários… herdeiros...
Façam disso um bom proveito.

Raúl Melo

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