quarta-feira, 15 de maio de 2013

[The Naked Lunch]: Crise e Consumos


Numa época em que a palavra crise é a ordem do dia, palavra tão banalizada que qualquer dia nem se percebe bem o que quer dizer, gostaria de começar por esclarecer o que a mesma significa.

Na wikipédia pode ler-se: “Crise (do grego κρίσις,-εως,ἡ translit. krisis; em português, distinção, decisão, sentença, juízo, separação) é um conceito utilizado na sociologia, na política, na economia, na medicina, na psicopatologia, entre outras áreas de conhecimento.”

Não satisfeita, continuei a minha busca, de onde me deparo com a definição do dicionário Priberam da Língua Portuguesa (http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=crise)
“crise (latim crisis, -is, do grego krísis, -eós, acto.ato.ato de separar, decisão, julgamento, evento, momento decisivo) s. f.
1. [Medicina]   [Medicina]  Mudança súbita ou agravamento que sobrevém no curso de uma doença aguda (ex.: crise cardíaca, crise de epilepsia).
2. Manifestação súbita de um estado emocional ou nervoso (ex.: crise de choro, crise nervosa). = ACESSO, ATAQUE
3. Conjuntura ou momento perigoso, difícil ou decisivo.
4. Falta de alguma coisa considerada importante (ex.: crise de emprego, crise de valores).
5. Embaraço na marcha regular dos negócios.
6. Desacordo ou perturbação que obriga instituição ou organismo a recompor-se ou a demitir-se.”

Aqui já comecei a ter definições mais específicas em função do contexto e fiquei a pensar ”Bom, se calhar não está assim tão banalizada, porque actualmente estamos perante quase todas estas crises!”

Do ponto de vista psicológico, a crise ocorre quando há um desequilíbrio que exige um esforço adicional para manter a harmonia/estabilidade emocional. Para poder lidar com a instabilidade, o indivíduo deverá ser capaz de tolerar esse(a) sensação/estado a fim de conseguir ultrapassar a dificuldade. Daí a referência a um período de crise (social, biológico ou psicológico) como um período igualmente de potencial, na medida em que se podem desenvolver competências para novos equilíbrios, capacidade de adaptação, etc.

Apesar das ideias de oportunidade e de potencial associadas aos períodos de crise, normalmente estes não são períodos fáceis. O próprio põe em causa as suas competências para ultrapassar a situação e pode ter dificuldade em gerir os recursos à sua volta, ou sentir mesmo que não tem qualquer tipo de recursos. No contexto actual em que nos encontramos envolvidos numa crise económica e social, uma situação de crise individual pode tomar proporções mais complicadas do que noutros períodos, na medida em que se pode percepcionar o contexto como não oferecendo recursos viáveis ao equilíbrio individual interno. Por outro lado, existe também quem mais facilmente, por características pessoais, meio envolvente, ou pela experiência de outras crises vividas no passado, se sinta capaz de lidar com estas adversidades, com menos dificuldade. Por exemplo, uma pessoa que numa situação de desemprego se vê envolvida em toda uma espiral de acontecimentos sentindo-se deprimida e incapaz para fazer face à situação e outra que numa situação semelhante, opta por arriscar e criar um negócio.

Por vezes num contexto de crise – social, económica ou psicológica – o individuo pode sentir que não tem condições de auto gestão e (re)iniciar consumos abusivos, quer de álcool ou outras substâncias, quer numa perspectiva anestesiante ou estimulante. Este risco estará acrescido em pessoas que já tenham usado esta estratégia como forma de regulação emocional ou que tenham uma dependência de substâncias (ainda que em abstinência). No contexto actual de crise económica, com aumento do desemprego e crescente visão negativa do futuro (pessoal, do país, etc) parece-me que estamos perante um risco acrescido de aumento dos consumos de substâncias.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia acerca deste tema comentou  numa entrevista “A crise económica associada que está ao desemprego gera um aumento de consumo de bebidas alcoólicas e das suas consequências. Há evidências de que um aumento de 3% no desemprego se associa a 28% de mortes causadas pelos problemas ligados ao álcool. Esta grave crise que estamos a atravessar é propícia ao aumento dos consumos e às consequências do mesmo. Sempre que existe um mal-estar procuramos alivia-lo, e as bebidas alcoólicas acessíveis e a custos baixos são um recurso possível. Mas não fiquemos “atolados” no pessimismo, porque as crises também geram alternativas e oportunidades de mudança para melhor. Espero que esta crise propicie movimentos e medidas positivas para enfrentar este gravíssimo problema.”(http://saude.sapo.pt/saude-medicina/artigos-gerais/crise-esta-a-aumentar-o-consumo-de-alcool.html?pagina=2)

Muito mais se poderia dizer sobre este tema. Vocês o que pensam sobre isto?

Ana Nunes da Silva

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