terça-feira, 18 de junho de 2013

[Comboio do Desenvolvimento]: O Tempo na Psicologia do Desenvolvimento


Lembram-se de Einstein? Desafiei, particularmente os psicólogos, a um exercício de descentração cognitiva, pelo menos tão “genial” como aquele que levou Einstein a descobrir a importância da psicologia do desenvolvimento cognitivo!  
Vejamos então se conseguiram captar a pré-lógica que caracteriza a forma de representar o tempo que vos mostrei há uns dias e que Piaget designou pensamento pré-operatório. 
Nesta primeira forma de representação, a criança associa a idade das pessoas ao crescimento físico (particularmente à altura), a dimensão perceptivamente saliente. Por isso, quem é fisicamente maior é sempre mais velho e, se os adultos pararam de crescer, então já não podem envelhecer mais. Também por isso, a idade não depende da data do nascimento, pois quem nasceu primeiro é geralmente a própria criança, mesmo que seja a mais nova da família (egocentrismo do pensamento), mas os mais novos podem sempre, um dia mais tarde, passarem a ser os mais velhos, se crescerem muito e ficaram fisicamente maiores. Em síntese, o pensamento pré-operatório é regulado por critérios perceptivos e egocêntricos que são inquestionáveis para o próprio sujeito, pois o que parece é e não pode deixar de ser assim.
Oiçam agora o que diziam outras crianças, da mesma idade ou um pouco mais velhas (4-7 anos), cujo pensamento Piaget situa num nível intermédio (entre o pensamento pré-operatório e o pensamento operatório concreto) de representação da idade das pessoas!

Tens irmãos? Uma irmã e um irmão, Florian, de 9 meses. Vocês são da mesma idade? Não. Primeiro o meu irmão, depois a minha irmã, depois eu, depois a mãe, depois o pai. Mas quem nasceu primeiro? Eu, depois a minha irmã, depois o meu irmão. Então quando tu ficares velho, o Florian vai continuar mais novo do que tu? Sempre não. A gente vai ficar com a mesma idade. (Piaget, 1946a/2002, p. 235-237, Tipo 2.1) 

Tens irmãos? Uma irmã mais nova, de 6 anos. Quantos anos menos do que tu? Dois anos. Quando tu fores uma senhora, ela terá a mesma idade que tu? Não, ela será menor do que eu. Quantos anos menos. Dois. Tens a certeza? Sim. Porquê? Porque é sempre a mesma coisa que agora. E quando forem muito velhas? Sempre a mesma coisa. Então qual das duas nasceu antes da outra? Não sei. Quem nasceu primeiro? Não sei. Ela não me disse quando nasceu. (Piaget, 1946a/2002, p. 235-237, Tipo 2.2)   

Será que estas duas formas de pensar a idade das pessoas são, de facto, mais inteligentes do que a representação que tinham as crianças pré-operatórias? Porquê? O que é novo, diferente, mais realista, na representação da idade por estas crianças? E o que permanece primitivo, perceptivo e egocêntrico? Ou será que Piaget não tem razão, o pensamento das crianças continua apenas regulado por critérios pré-lógicos, pré-operatórios, e isso a que chamou desenvolvimento cognitivo permanece, por agora, uma pura ilusão?
Desafio então os meus leitores, particularmente os psicólogos, a um novo exercício de descentração cognitiva, tão exigente como aquele que já experimentaram. Espero!...
Porquê? Porque só esse esforço nos permite compreender esta nova forma de representação do tempo e do mundo em que vivemos. E, também, porque só esse esforço de descentração cognitiva nos permite captar a perspectiva de análise dos psicólogos do desenvolvimento. 


Maria Stella Aguiar

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