segunda-feira, 1 de julho de 2013

NEPC: Os Criminosos são Empáticos?


            Dando início à parceria de publicações com o Núcleo de Estudantes de Psicologia Criminal, do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, aqui fica o primeiro texto.

A palavra empatia deriva do alemão Einfuhlung, que significa sentir para, ou tentar compreender o outro (Tavares, 2007). A sua conceptualização engloba uma componente emocional (capacidade de experienciar as emoções dos outros) e cognitiva (compreensão dos sentimentos dos outros) (Blake & Gannon, 2008). As respostas empáticas variam de pessoa para pessoa e de situação para situação (Brown, Harkins & Beech, 2012).
Os estudos revelam que a fraca empatia é um importante traço da personalidade que está relacionado com o comportamento agressivo, onde os indivíduos que percecionam/experienciam os sentimentos dos outros, nomeadamente das vítimas, possuem menor probabilidade de vitimizar alguém (Farrington, 2002). Acredita-se que a falta de empatia incentiva não só a agressividade, mas também o comportamento antissocial em geral. (Jolliffe & Farrington, 2004, citados por Roche, Shoss, Pincus & Ménard, 2011). Já pelo contrário, elevado nível de empatia aparenta estar relacionado com um comportamento/interações sociais positivas (Cohen & Strayer, 1996, Zahn-Waxler, Cole, Welsh, & Fox, 1995, citado por Flight & Forth, 2007).
A empatia também tem sido estudada quanto à sua relação, em específico, com os crimes sexuais, onde baixos níveis de empatia estão associados a comportamentos sexualmente desviantes (Chaplin, Rice & Harris, 1995; Rice, Chaplin, Harris & Coutts, 1994, citados por Pithers, 1999). Por exemplo, os ofensores sexuais podem possuir empatia no geral mas falta de empatia perante grupos específicos de vítimas (e.g. abusadores de menores, possuem falta de empatia para com as crianças) ou para com as suas vítimas específicas (Farr et al., 2004; Fernandez & Marshall, 2003; Fernandez, Marshall, Lightbody & O’Sullivan, 1999; Webster & Beech, 2000; Whittaker, Brown, Beckett & Gerhold, 2006, citados por Roche et  al, 2011).
Assim sendo, a falta de empatia é um importante fator, na medida que pode facilitar a ocorrência de um comportamento criminal, sendo este de caracter sexual ou não.

            Hugo Domingues


Referências
Blake, E., & Gannon, T. (2008). Social perception deficits, cognitive distortions, and empathy deficits in sex offenders: a brief review. Trauma, violence & abuse, 9 (1), 34–55. doi:10.1177/1524838007311104
Brown, S., Harkins, L., & Beech, A. R. (2012). General and victim-specific empathy: associations with actuarial risk, treatment outcome, and sexual recidivism. Sexual abuse : a journal of research and treatment, 24 (5), 411–30. doi:10.1177/1079063211423944
Farrington, D. (2002). Developmental criminology and risk-focused prevention Farrington. Oxford University Press.
Flight, J. I., & Forth, a. E. (2007). Instrumentally violent youths: The roles of psychopathic traits, empathy, and attachment. Criminal Justice and Behavior, 34 (6), 739–751. doi:10.1177/0093854807299462
Pithers, W. D. (1999). Empathy: definition, enhancement, and relevance to the treatment of sexual abusers. Journal of Interpersonal Violence, 14 (3), 257–284. doi:10.1177/088626099014003004
Roche, M. J., Shoss, N. E., Pincus, A. L., & Ménard, K. S. (2011). Psychopathy moderates the relationship between time in treatment and levels of empathy in incarcerated male sexual offenders. Sexual abuse : a journal of research and treatment, 23 (2), 171–92. doi:10.1177/1079063211403161
Tavares, J. (2007). Considerações sobre empatia. Revista de psiquiatria, 21 (1). 47-51.

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